29 março 2010

Indústria de TI nacional deve se consolidar mais em 2010

Retomada da economia e o aumento de capital disponível tendem a acelerar a consolidação da indústria de TI no Brasil em 2010.
Por ANDREA GIARDINO E TATIANA AMERICANO,

Publicado pela COMPUTERWORLD em 10 de fevereiro de 2010

O movimento de fusões e aquisiçõesentre fornecedores de software, hardware e serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) tende a ficar ainda mais intenso neste ano. Há uma expectativa de que a consolidação do mercado seja impulsionada pelo aumento do capital circulante e por uma competição mais acirrada entre as companhias do setor, que precisarão fortalecer suas operações por meio de um portfólio abrangente e pela ampliação da base de clientes.


O diretor da consultoria Acquisitions, ¬especializada em fusões e aquisições , Ruy Moura, aponta que o otimismo em relação ao Brasil vai criar um cenário favorável para a consolidação de empresas. "Em 2010, acredito que o volume de acordos será maior até do que em 2007, que foi o auge dessas movimentações", projeta Moura. Opinião compartilhada pelo vice-presidente de pesquisas em TI do Gartner, Donald Feinberg, que avalia: "O fortalecimento da economia estimulará um número maior de acordos entre empresas de TI neste ano".

No que depender de um relatório de 2009 da consultoria e auditoria Ernst & Young, o dinheiro não representará problema para as organizações interessadas em fusões e aquisições no País. Após ouvir investidores de todo o mundo, a empresa detectou que cerca de 60% deles esperam aumentar os negócios no Brasil. E o mercado local só perde em termos de potencial de aportes internacionais para a China, que aparece com 64% das intenções de investimento.

De acordo com Moura, desde o segundo trimestre deste ano, houve uma retomada nas negociações entre as empresas interessadas em aquisições. "Quando os empresários perceberam que no Brasil a crise não era tão violenta como no resto do mundo, começaram a enxergar possibilidades oportunistas de compra", relata o especialista.
Ele explica que a falta de crédito deixou algumas empresas fragilizadas e, por consequência, fez com que elas se tornassem alvo fácil para incorporação. Os dados da Associação Brasileira de Entidade do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima) confirmam esse cenário. De janeiro a setembro de 2009, o orgão calcula que as transações de fusão, aquisição, IPO (oferta pública de ações) e reestruturação societária totalizaram 116,7 bilhões de reais. O que representa um aumento de 33,4% sobre o mesmo período de 2008, mas ainda abaixo dos 141,2 bilhões de reais contabilizados há dois anos.

As companhias que atuam na área de tecnologia lideraram o volume de operações de fusões e aquisições realizadas no País no ano passado, segundo dados de uma pesquisa conduzida pela empresa de auditoria e consultoria KPMG. Nos nove primeiros meses de 2009, dos 351 acordos realizados no Brasil, 39 deles envolveram empresas de TIC, o que representa um crescimento de 22% em relação ao ano anterior. "Estamos assistindo a uma retomada no volume de operações, impulsionada por um apetite maior das empresas brasileiras e estrangeiras", afirma o sócio responsável pela área de fusões e aquisições da KPMG, Luís Motta.
No mundo

No mercado mundial de TIC, os fornecedores que tinham dinheiro em caixa aproveitaram o cenário de crise para incorporar empresas com o objetivo de expandir o portfólio de produtos. Um dos exemplos mais clássicos dessa movimentação foi da Oracle. Com a declarada intenção de tornar-se uma provedora de soluções completas para o mercado corporativo, a companhia anunciou, em abril deste ano, uma oferta de 7,4 bilhões de dólares paracompra da Sun Microsystems. O acordo, que ainda aguarda aprovação, veio juntar-se a outras seis aquisições menores realizadas pelo grupo em 2009, o qual já incorporou um total de 56 empresas nos últimos quatro anos.
Mais recentemente, outras duas grandes marcas no mercado de TIC protagonizaram um processo de consolidação. Em uma negociação de 2,7 bilhões de dólares, a HP adquiriu a 3Com em novembro do ano passado. Com a transação, o grupo quer concorrer mais de perto com a Cisco na área de equipamentos de redes. Outro negócio, desta vez uma parceria, foi o acordo entre HP e Microsoft para o desenvolvimento de soluções integradas de cloud computing.
Também em relação a aquisições, a HP encerrou, em setembro de 2009, o processo de incorporação da EDS. Com isso, a empresa passa a fazer parte da unidade de serviços do grupo. O que tende a fortalecer a presença da fornecedora de hardware nesse mercado, no qual deve competir com a IBM, e, por outro lado, vai refletir em um aumento de receitas, já que os resultados da companhia adquirida serão incorporados no faturamento do atual ano fiscal, iniciado em outubro.
Para Feinberg, do Gartner, a necessidade de buscar uma margem melhor de lucro a partir do equilíbrio entre a oferta de hardware, software e serviços tem motivado os grandes grupos de TI a absorver empresas. "A Dell, que já era forte no mercado de equipamentos, adquiriu a Perot Systems por conta da necessidade de oferecer serviços", exemplifica o especialista, ao citar a recente transação, que envolveu 3,9 bilhões de dólares. Dentro dessa mesma óptica, o especialista acredita que Cisco, Microsoft e SAP tendem a protagonizar aquisições voltadas a ampliar o portfólio.

Essa movimentação dos grandes fornecedores internacionais tem impactos diretos no cenário local. "Das 39 transações envolvendo empresas de TI no Brasil [contabilizadas nos nove primeiro meses de 2009], 21 delas aconteceram entre companhias nacionais e, principalmente, de pequeno e médio portes", afirma o especialista da KPMG. A justificativa para esses dados está no fato de que as organizações menores precisam responder à concorrência dos grandes grupos. "Por outro lado, elas devem estar prontas para acompanhar uma explosão da demanda no mercado brasileiro", acrescenta Ruy Moura. Para ele, o fato de o País sediar a Copa do Mundo e a Olímpiada em 2014 e 2016, respectivamente vai acelerar os investimentos em TI.
Entre as companhias 100% brasileiras que já manifestaram a intenção de se fortalecer no mercado a partir de aquisições, está a integradora Stefanini. Com faturamento projetado de 674 milhões de reais para este ano, a companhia planeja adquirir fornecedores de serviços nos Estados Unidos, Europa e México. "Ao contrário de muitas empresas, temos dinheiro em caixa", diz o presidente da companhia, Marco Stefanini. Ainda de acordo com ele, essa expansão das operações vai contribuir para que o faturamento de 2010 fique próximo de 1 bilhão de reais.

Ainda para 2010, o diretor da Acquisitions acredita em uma tendência de fusões e aquisições entre pequenos e médios fornecedores de ERP (sistema de gestão empresarial). "Já existem muitas operações em andamento", informa Moura, que acrescenta: "Tratam-se de companhias que são excelentes em seu nicho de mercado, mas que precisam de fôlego para atender a grandes clientes". Além disso, ele cita que esses fornecedores menores estão preocupados com a concorrência dos grandes players desse setor, hoje dominado por Totvs e SAP.
http://computerworld.uol.com.br/negocios/2010/02/09/industria-de-ti-nacional-deve-se-consolidar-mais-em-2010/



29 março 2010



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