28 novembro 2011

Por r$ 5 bi, Techint fica com 27,7% da Usiminas

Techint entra na Usiminas por r$ 5 bilhões

A disputa entre três grupos empresariais pelo direito de se tornar controlador da Usiminas terminou com a vitória da Ternium, o braço de siderurgia da Techint, que havia manifestado seu interesse pelo negócio há apenas 10 dias - os dois outros candidatos eram a CSN e a Gerdau. Foi divulgado ontem à noite o anúncio oficial de que a Ternium e suas coligadas fecharam a aquisição das participações acionárias que os grupos Camargo Corrêa e Votorantim detinham na Usiminas, somando uma fatia de 27,7% do capital votante, por mais de R$ 5 bilhões

A argentina Ternium, braço siderúrgico do grupo Techint, fechou ontem a compra das participações acionárias dos grupos Camargo Corrêa e Votorantim e da Caixa dos Empregados (fundo de pensão) na Usiminas. A empresa vai desembolsar pouco mais de R$ 5 bilhões para comprar 139,7 milhões de ações ou 27,7% do capital votante da Usiminas. Com isso, passa a dividir o controle da siderúrgica mineira com a japonesa Nippon Steel.

A compra será feita pela Ternium e suas subsidiárias Siderar e Confab Industrial (subsidiária da Tenaris). O grupo Techint é controlado pelo empresário ítalo-argentino Paolo Rocca.

A Ternium e a Siderar vão pagar o equivalente a R$ 4,1 bilhões com caixa e dívida. A Confab vai desembolsar R$ 900 milhões para cumprir sua parte da operação, que consiste em comprar 5% das ações ordinárias e 2,5% do capital social da Usiminas.

Pouco antes das 22 horas de ontem, a operação foi comunicada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os compradores pagarão R$ 36 por ação, com prêmio de pouco mais de 80% sobre o valor de fechamento dos papéis na sexta-feira (ou 41% sobre o valor médio dos últimos seis meses, em dólar). Apesar disso, o preço final é inferior aos R$ 40 por ação que chegou a ser negociado entre as partes. Depois que o interesse da Ternium foi divulgado pela imprensa, houve uma renegociação.

Além de comprar os papéis de Camargo e Votorantim, a Ternium, juntamente com a Nippon, vai adquirir parte da fatia acionária da Caixa dos Empregados da Usiminas.

Com essa transação, o grupo de controle da Usiminas será composto por Nippon, com 46,1% dos votos, Caixa dos Empregados, com 10,6%, e Ternium e coligadas, com 43,3% de participação. A maioria das decisões necessitará de pelo menos 65% de votos favoráveis para aprovação, de acordo com o comunicado.

O desfecho da disputa pela fatia de 26% da Usiminas acontece após cerca de um ano de negociações e coloca um ponto final nos planos do empresário Benjamin Steinbruch, dono da siderúrgica CSN, de ser controlador da Usiminas. A Ternium desbanca, também, o grupo Gerdau. Como integrante do bloco de controle, a Nippon Steel tinha direito de preferência para comprar as ações de Camargo e Votorantim e queria barrar o acesso de Steinbruch. Este implementou estratégia de adquirir ações da Usiminas em bolsa para tentar, por fim, negociar sua entrada no bloco.

Mesmo com a entrada da Ternium na disputa, a CSN seguiu sua investida estratégica sobre a companhia mineira com a compra de ações na bolsa. Conforme o último comunicado feito pela CSN, no dia 18, a empresa comanda por Benjamin Steinbruch alcançou participação de 20,14% nas ações preferenciais da concorrente, elevando a fatia que era de 15,15% no fechamento de setembro. A participação no capital com direito a voto teve pequena alteração, passando de 11,29% para 11,66%.

A compra de ações da Usiminas gerou perdas à CSN. Até setembro, houve uma desvalorização de R$ 446,9 milhões na participação na rival, segundo dados do balanço do terceiro trimestre, comparado a um ganho de R$ 206,9 milhões nos nove primeiros meses do ano passado. No fim de setembro, a CSN tinha 11,29% das ordinárias e 15,15% das preferenciais da Usiminas. A conta também inclui uma fatia de 9,39% da siderúrgica de Volta Redonda (RJ) na beneficiadora de aços planos Panatlântica, de Gravataí (RS).

A aquisição das ações da Votorantim e da Camargo na Usiminas pela Ternium não vai inviabilizar o projeto de construção de uma usina siderúrgica no Porto Açu, em Barra de São João, controlado pela LLX, empresa do grupo EBX de Eike Batista, apurou o Valor. O projeto da usina é estimado em US$ 4,7 bilhões e visa produzir placas de aço para suprir as usinas siderúrgicas da Ternium no México.

Com a entrada da companhia no bloco de controle da Usiminas, a ideia, segundo fontes envolvidas na negociação, é destinar também parte dessas placas para serem laminadas na usina de Cubatão, da Usiminas, para exportação. Para isso, é fundamental que seja construído um ramal da FCA que vá até o porto para enviar as placas através da ferrovia para Cubatão.
O projeto da Ternium, no litoral fluminense já tem licença prévia ambiental e até março deve ter também licença de instalação. A siderúrgica do Açu será abastecida de minério de ferro pela Anglo Ferrous, subsidiária da mineradora da sul africana Anglo American.usina siderúrgica no Porto Açu, em Barra de São João, controlado pela LLX, empresa controlada pelo grupo EBX de Eike Batista, apurou o Valor.

Somando os dois negócios - a compra dos 26% da Usiminas e a nova usina no Rio de Janeiro -, a Ternium deverá investir mais de R$ 13 bilhões no mercado brasileiro, observou uma fonte.

A possível entrada da Ternium na Usiminas não foi bem recebida pelos investidores, que estavam descrentes quanto ao fechamento do negócio por causa do preço oferecido, considerado elevado. Quando começaram a surgir os boatos sobre o interesse da Ternium, depois confirmados pela companhia, as ações da Usiminas caíram na bolsa. Do dia 16 até sexta-feira, as ações recuaram 15,3%.

Na sexta-feira, as ações ordinárias (com direito a voto) da Usiminas fecharam a R$ 19,70 na bolsa. Portanto, o valor a ser pago pela Ternium, de cerca de R$ 36 por ação, representa um prêmio de mais de 80% sobre o preço de mercado dos papéis.

A Usiminas tem sentido os efeitos da crise no setor e reduziu a produção para 70% da capacidade. Até meados do ano, a empresa trabalhava com 90%. "Esse nível de 70% já é bastante baixo", disse, recentemente, o seu presidente Wilson Brumer. "É lógico que nas nossas análises internas a gente está considerando o tempo todo o que fazer", disse ele, ao se referir à hipótese de fechar fornos e cortar pessoal. "Só chegaremos a adotar uma mudança mais drástica se a gente não vir nenhum cenário de mudança em relação ao atual", disse. O cenário número um da empresa, no entanto, é de alguma melhora.

Apesar do otimismo, a Usiminas está se desfazendo de ativos para reforçar o caixa. Lotes, apartamentos, fazendas são alguns dos imóveis vendidos e com os quais espera ter um ganho de cerca de R$ 300 milhões até 2013. São mais de 250 ativos imobiliários não operacionais para venda. No terceiro trimestre, a receita líquida ficou em R$ 2,998 bilhões. O valor se compara aos R$ 3,241 bilhões do terceiro trimestre do ano passado.

A Ternium registrou lucro líquido de US$ 23,4 milhões no terceiro trimestre deste ano, o que representou uma queda de 91% diante dos US$ 247 milhões na comparação anual. No acumulado de janeiro a setembro, a empresa acumulou lucro líquido de US$ 513,5 milhões, um recuo de 24% em relação aos US$ 676,6 milhões dos nove primeiros meses de 2010.

As vendas líquidas da Ternium no terceiro trimestre aumentaram 5%, somando US$ 2,4 bilhões nesse período. Nos nove primeiros meses de 2011, a siderúrgica argentina acumula receita líquida de US$ 6,9 bilhões., uma expansão de 28% em relação ao mesmo período do ano passado.

A Ternium teve 34% de suas vendas em dólares, no terceiro trimestre, geradas nas Américas Central e do Sul. Outros 33% foram provenientes da América do Norte. (Com Marcos de Moura e Souza, Alberto Komatsu e Silvia Fregoni). Por Vera Saavedra Durão e Vanessa Adachi
Fonte: ValorEconômico 28/11/2011

28 novembro 2011



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