14 novembro 2012

Com o dinheiro do concorrente

As empresas brasileiras estão seguindo os passos das estrangeiras e abrindo fundos próprios para investir em outras companhias. O Objetivo é ganhar dinheiro - e mercado.

 A HOMEAWAY, uma empresa de internet do Texas oferece imóveis para alugar, virou a queridinha analistas e investidores assim que anunciou a intenção de abrir capital, no ano passado. Ao contrário outras companhias de internet que também planejavam lançar ações, como site de compras coletivas Groupon, a HomeAway tinha um histórico consistente de lucros. E tinha o Google, maior empresa de internet do mundo, como sócio. Por meio de um fundo próprio de venture capital, especializado em comprar participações em empresas pequenas que buscam capital para crescer, O Google havia colocado 25 milhões de dólares na HomeAway um ano antes. Vendeu uma parcela desse total na oferta de ações, com lucro de quase 60%, e usou o dinheiro para aplicar em outros negócios - que, se tudo der certo, também vão viver um ciclo parecido de investimento, expansão e ida à bolsa.

Como o Google, centenas de companhias americanas e europeias têm fundos de investimento, abastecidos com que seus próprios recursos, para aplicar em outras empresas. O maior deles é o da fabricante de chips Intel, que já investiu 11 bilhões de dólares em mais de 1 000 empresas de 51 países, inclusive no Brasil. No ano passado, 83 companhias lançaram fundos desse tipo no mundo, como a montadora alemã BMW e o conglomerado francês de luxo LVMH, dono da marca Louis Vuitton. Nos últimos meses, esse movimento começou a ganhar força também no Brasil. Até recentemente, havia apenas dois fundos em operação aqui. Agora, a Totvs, maior empresa de software do país, está estruturando um fundo para comprar participações em empresas brasileiras e estrangeiras de tecnologia.

A espanhola Telefônica anunciou em setembro que vai destinar 770 milhões de reais para aplicar em projetos na Espanha, na América Larina e também no Brasil, por meio de sua subsidiária aqui, a Vivo. A fabricante de software Microsoft lançou em julho um projeto para selecionar startups que poderão ser compradas. A companhia brasileira de tecnologia Stefanini, que já tem um fundo desse tipo há dois anos, deve elevar o valor disponível para investimentos de 75 milhões para 100 milhões de reais. "O Brasil vive um momento propício para o surgimento de empresas inovadoras, algo similar ao que vimos ocorrer na China e, mais recentemente, na índia", diz Arvind Sodhani, presidente mundial do Intel Capital.

 IDÉIAS INOVADORAS

Em geral, as empresas têm dois objetivos ao criar esses fundos. Um deles é ganhar com a valorização do investi-mento, como fez o Google com a HomeAway. Outro é colocar recursos em empresas que estejam desenvolvendo produtos complementares ao que elas já fazem. Ou seja, em vez de ter um pos-sível concorrente, elas passam a ter um parceiro.

A Stefanini comprou a TI Vanguard, especializada em software de gestão, para ampliar sua atuação nesse segmento e passar a vender mais para a IBM, grande compradora dos produtos da Vanguard.

A Totvs busca algo semelhante com seu fundo. "Estamos atrás de empreendedores que possam melhorar nossos produtos e serviços com idéias inovadoras", diz Laércio Cosentino, presidente da Totvs. Para as empresas escolhidas, a vantagem de receber recursos dos fundos de venture capital corporativos ? além do dinheiro em si, claro ? é poder contar com a expertise dos novos sócios. "Historicamente, a taxa de sucesso dos investimentos de venture capital de empresas é superior à dos demais, porque os empresários sabem mais sobre como empreender e fazer o negócio dar certo", diz Garv Dushnitsky, professor da escola de negócios London Business School e especialista no assunto. 

O problema dos fundos de venture capital corporativos é que sua disponibilidade de capital costuma variar muito. Quando a economia vai bem e a bolsa sobe, geralmente sobra dinheiro. Em 2000, em meio à euforia das empresas de internet nos Estados Unidos, esses fundos chegaram a investir 16 bilhões de dólares, um recorde. Na crise de 2008, o volume caiu para 2 bilhões. Nessa época, o grupo Votorantim, única empresa nacional que tinha então um fundo do gênero, parou de fazer investimentos.

As empresas do fundo, como a Tivit, de tecnologia da informação, foram vendidas. Uma pesquisa da Universidade de Oxford mostra que, agora, vive-se a onda dos investimentos em tecnologia e geração de energia limpa. Outra conclusão do estudo é que os fun-dos deixaram de ficar restritos ao mercado americano e ao europeu e expandiram-se para os emergentes.

Hoje, quatro de cada dez novos fundos estão sendo lançados em países como Brasil, China, índia e Rússia. O que mais levantou recursos em 2011 foi o da companhia chinesa de internet Tencent, que captou 1,5 bilhão de dólares.

 Apesar do avanço recente, os valores no Brasil são bem mais modestos. Uma dificuldade apontada por empresários que pensam em entrar nesse segmento, como o site de comparação de preços Buscapé, é o fato de a Bovespa ser praticamente fechada para aberturas de capital de empresas pequenas e médias.

Na China, nos Estados Unidos e na Inglaterra é comum que haja ofertas de ações de cerca de 10 milhões de dólares. Aqui, a média tem sido 400 milhões de dólares. "As opções para se desfazer do investimento são mais limitadas por aqui. É preciso vender a empresa que recebeu o aporte a outra companhia ou a um fundo. Isso torna a aplicação menos interessante", diz Ayrton Aguiar, vice-presidente de Novos Negócios do Buscapé. Um grupo de executivos do mercado deve apresentar ao governo neste ano projeto para incentivar abertura de capital de empresas menores. Pode ser o empurrão que falta para mais companhias lançarem fundos aqui. Thiago Bronzatto
Fonte: Revista Exame 13/11/2012

14 novembro 2012



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