06 outubro 2017

Nova economia valoriza empreendedor, diz Rial

O pior da crise brasileira já passou, mas o momento ainda é "extremamente desafiador", com 13 milhões de desempregados. Num mundo pós-digital, entretanto, a recuperação da economia não será suficiente, por si só, para gerar os empregos perdidos, segundo Sergio Rial, presidente do Banco Santander.

"As atividades repetitivas, que garantiam estabilidade nas empresas, vão perder escala. E os mais atingidos são justamente os mais desfavorecidos, os que não têm acesso à educação", disse Rial, em apresentação no Fórum Cidadão Global, organizado pelo Valor e pelo Santander/AAdvantage.

A tecnologia vai reduzir a necessidade de esforço humano em muitas atividades, avaliou. "Os currículos dos anos 80 não servem mais no século XXI", ressaltou. "Mas esse quadro é mais promissor do que parece."

Rial ressaltou que a educação será mais importante do que nunca, mas as empresas também terão de criar condições para que seus funcionários se reinventem. "A nova economia gera menos empregos convencionais, mas abre mais espaço para o empreendedorismo."

O executivo destacou ainda a necessidade de aliar novas tecnologias e valores humanos, como diálogo, inclusão e liderança, para transformar a sociedade global. "Ser revolucionário é ser capaz de dialogar e mudar de ideia. A tecnologia por si só não ajudará problemas das nações. Capacidade humana é essencial e educação é ferramenta básica de transformação", afirmou.

Com os avanços tecnológicos, o papel da liderança será fundamental para criar impacto e transformações, seja no setor público ou privado, nos negócios ou nas relações interpessoais. "Máquinas e inteligência artificial são realidade, mas elas são binárias, operam a partir de organização de algoritmos. Nós somos lógicos, psicológicos e criativos. Sentimos e intuímos. E principalmente temos capacidade de surpreender", afirmou o presidente do Santander.

A palavra-chave de hoje é "mudança", disse Rial. Segundo ele, a sociedade pós-digital impõe novas realidades. Uma delas é o surgimento de uma nova economia, com organizações mais leves e centradas no cliente, mas menos empregadoras. "É o século do desafio do emprego", disse.

O novo contexto também traz o risco das pós-verdades, do exercício midiático da gestão política, e a intolerância "em prol da verdade absoluta de alguns". Segundo Rial, também é preciso orientar os cidadãos a buscar a verdade, disse, numa crítica à proliferação de notícias falsas nas redes sociais.

Para o executivo, a ilimitada defesa da transparência, se contextualizada de forma parcial, pode levar a distúrbios socioeconômicos corrosivos.

A nova realidade também impõe mudanças na forma de representação política e desperta, em algumas regiões do mundo, processos separatistas, como na questão da Catalunha, disse Rial. O risco político deixou de ser uma característica de países menos desenvolvidos, segundo o presidente do Santander, e se tornou um fenômeno global, alimentado pela sociedade digital.

O exemplo do ex-presidente americano Barack Obama é inspirador, segundo Rial. "Um presidente que falava de paz vindo da nação mais poderosa do planeta. Isso é um líder do século XXI", destacou.

Rial lembrou o papel de Barack Obama na criação de um programa de saúde mais sólido e inclusivo nos Estados Unidos - "que até agora não conseguiram derrubar" - e no avanço em políticas afirmativas. "Fica o nosso desafio de continuar nesse processo de formação de liderança", observou, lembrando que no próximo ano as eleições serão "absolutamente críticas" para o futuro do Brasil.

O Brasil vive um momento difícil, mas que pode ser superado, disse Rial. Diferentemente do que ocorre em questões extremas como nos conflitos recentes na Espanha e na tensão com a Coreia do Norte, resolver a crise brasileira passa por gestão e maior comprometimento da sociedade, segundo o executivo.

"Não podemos deixar o país na mão de minorias organizadas." O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de igualdade e inclusão social, afirmou o executivo. "Temos muito a fazer para assegurar, por meio de ações coletivas, que milhões sejam trazidos para nosso tecido econômico."

Para Rial, as companhias têm papel fundamental a desempenhar para ajudar a reduzir a desigualdade social no Brasil.

Em outro momento de sua apresentação, Rial afirmou que é preciso valorizar a importância do indivíduo como máquina e mola do progresso, mas com a consciência de que de que "sem o pensar coletivo não há futuro".  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 06/10/2017

06 outubro 2017



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