05 dezembro 2017

DP World conclui compra e assume Embraport

A DP World, gigante de operação de terminais portuários de contêineres, com sede em Dubai, fechou a compra da fatia restante de 66,7% na Embraport, terminal privado em Santos (SP) que estava com a sócia Odebrecht Transport (OTP). O negócio foi anunciado ontem, aproximadamente um ano após as empresas assinarem o acordo de compra e venda.

A Embraport passa a se chamar DP World Santos. A compra marca dois movimentos. O aumento da presença da DP World no Brasil, com fôlego para negociar globalmente contratos de navegação com os armadores, e a saída do braço de investimentos em infraestrutura da Odebrecht do mercado de terminais de contêineres.

As empresas não divulgaram o valor da transação. Mas no comunicado, a companhia informou que a aquisição representa menos de 5% de seu valor patrimonial líquido no primeiro semestre, de US$ 10,8 bilhões. Isso equivale a no máximo US$ 540 milhões ou quase R$ 1,8 bilhão, que era o valor da dívida financeira da Embraport no fim de 2016.

Em relatório, o BTG Pactual destacou que, considerando que a capacidade de movimentação da Embraport é de 1,2 milhão de Teus (contêiner de 20 pés) por ano, o múltiplo da transação foi de cerca de R$ 1,5 mil por Teu.

Segundo a OTP, a venda inclui a assunção da dívida da Embraport mais um valor para o caixa da empresa. "Não podemos revelar quanto foi, mas entrou dinheiro no caixa que será utilizado para reforçar a estrutura de capital", disse a presidente da OTP, Juliana Baiardi.

No ano passado, a DP World teve receita de US$ 4,16 bilhões e lucro líquido de US$ 1,26 bilhão. A movimentação bruta das operações nos ativos em que é sócia foi de 63,66 milhões de Teus, sendo 29,24 milhões de Teus referentes à fatia proporcional da companhia nas instalações. No total, são 78 empreendimentos no mundo.

"[Com a aquisição] a DP World tornou-se um dos principais operadores do setor de infraestrutura da América do Sul com uma rede de terminais de contêineres no Peru, República Dominicana, Argentina, Equador e Suriname", afirmou o sultão Ahmed Bin Sulayem, diretor-executivo da DP World, no comunicado. Ao fim deste ano, a DP World terá uma capacidade bruta para operar aproximadamente 89 milhões de Teus.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já tinha aprovado a transação em maio. A demora para o fechamento decorreu da complexidade da operação. Segundo Juliana, o negócio envolveu "muitos atores" na renegociação total das dívidas com os bancos. Havia duas partes da dívida, uma local, com a Caixa Econômica Federal como repassadora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e outra com bancos estrangeiros.

A decisão da OTP de vender a Embraport está inserida no processo de reestruturação da empresa que prevê a venda de alguns ativos. Neste ano, a OTP alienou também sua fatia no aeroporto do Galeão (RJ). "Estamos na fase de analisar nossa participação parcial ou total em ativos, mas nosso foco maior como OTP é permanecer em rodovias e mobilidade", disse Juliana.

Segundo a executiva, o cenário econômico, com dificuldade para o negócio de contêineres desde o fim de 2013, foi a principal razão que levou à venda da Embraport. Os volumes de cargas não corresponderam à expectativa diante da recessão. Ficou pesado para o grupo brasileiro carregar o ativo, com alto nível de endividamento diante de um potencial de geração de caixa ainda pequeno.

Inaugurado em 2013, quando a demanda de cargas no porto de Santos superava a oferta, o terminal tornou-se o terceiro em movimentação entre os seis dedicados a contêineres no maior porto da América Latina. Está atrás da Brasil Terminal Portuário (BTP) e da Santos Brasil, respectivamente.

Em 2016, a Embraport operou 644 mil Teus, alta de 2,9% sobre 2015, conforme o balanço da empresa. E assumiu, no mesmo ano, a liderança no ranking brasileiro de produtividade, ao movimentar em média 89 unidades por hora, desbancando o Tecon Santos, da Santos Brasil.

Originalmente, o negócio era do grupo Coimex, que nos anos 90 comprou um terreno em Santos para desenvolver um terminal privado. Em 2009, com a instalação ainda em construção, entraram no capital a OTP e a DPW, que depois se tornaram os únicos sócios.

Com a venda do controle da Embraport, a OTP sai do negócio portuário de contêineres, após tanto lutar contra a barreiras de entrada nesse mercado. O portfólio portuário da OTP passa a se restringir à Agrovia do Nordeste, terminal para operação de açúcar no porto de Suape (PE) que recebeu o primeiro navio em outubro.

A criação da Embraport acirrou a briga em Santos entre os dois modelos de exploração: terminais de uso privado (os chamados TUPs) e terminais de uso público (os arrendamentos). Ambos disputam a mesma carga, mas em condições concorrenciais distintas, com menos amarras para os TUPs. A Embraport é o único TUP de contêineres em Santos.

Em 2008, um decreto presidencial proibiu que os TUPs movimentassem cargas de terceiros em quantidade superior às próprias, criando insegurança jurídica sobre instalações como a Embraport, que já tinham a autorização para se instalar mas cujos acionistas não tinham como comprovar carga própria suficiente. A nova Lei dos Portos, de 2013, terminou com o impasse ao eliminar a figura da carga própria e revogar o decreto.

"É um terminal no estado da arte", disse Juliana, para quem o setor de terminais portuários de contêineres ainda tem muito potencial no Brasil por conta dos baixos índices de conteinerização de cargas e de produtividade.   - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 05/12/2017

05 dezembro 2017



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