12 janeiro 2018

Concórdia e Spinelli vão unir negócios

Concórdia e Spinelli, duas das mais tradicionais corretoras de valores do mercado brasileiro, chegaram a um acordo para uma fusão. Conforme o Valor apurou, os acionistas das instituições assinaram um memorando de entendimento com o objetivo de criar uma nova empresa e combinar os dois negócios.

A operação foi protocolada no Banco Central (BC) e aguarda sinal verde da autoridade e de outros reguladores. As conversas começaram em meados do ano passado entre o sócio Nelson Spinelli e, do lado da Concórdia, o ex-ministro Luiz Fernando Furlan, herdeiro de uma das famílias que fundaram a Sadia, junto com Caio Villares.

A operação foi antecipada na tarde de ontem pelo Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. Procuradas, as corretoras não comentaram. A percepção de que o ambiente concorrencial no segmento de distribuição de investimento requer empresas mais robustas levou à negociação. Com o tempo, as duas marcas vão desaparecer e uma nova vai surgir.

À frente da companhia estará Marcos Maluf, que já foi chefe da área comercial e de produtos do Bradesco. A ideia, segundo um interlocutor a par das conversas, é que a corretora combinada se transforme num centro de tecnologia em que empresas financeiras com tal viés (as chamadas "fintechs") possam ser plugadas à plataforma, a exemplo de alguns robôs de investimentos.

A companhia vai pedir à B3 o selo de "Participante de Negociação Pleno", o que a credencia a prestar serviços de tecnologia e retaguarda para outras corretoras. O modelo também prevê que possa consolidar instituições menores.

A percepção no setor é que aquelas sem o tamanho adequado terão mais dificuldade para sobreviver num mundo cada vez mais digital. A XP Investimentos se associou ao Itaú, a Guide ao grupo chinês Fosun, e a Easynvest ganhou aporte da gestora americana de private equity Advent.

Spinelli, Concórdia, Planner e Novinvest já têm um negócio comum, a Núcleos, criada para compartilhar despesas referentes à infraestrutura tecnológica, que chegam a representar um terço dos custos. Se a transação for aprovada, a previsão é que entre três e quatro meses as corretoras iniciem um processo de integração.

Embora não seja uma união entre gigantes, os sistemas são diferentes e as empresas atuam em nichos diversos. Enquanto a Spinelli foca mais o público de varejo, a Concórdia tem como carro-chefe o investidor institucional. As duas frentes vão coexistir e ser reforçadas. A distribuição por meio de agentes autônomos, presente principalmente na Spinelli, vai ter continuidade.

A associação ocorre após as corretoras apresentarem nos últimos anos sucessivos prejuízos. Mas os dois negócios estão capitalizados e haveria capacidade de investimentos, diz um interlocutor. O último resultado positivo da Concórdia foi registrado em 2014, com R$ 4,5 milhões, que veio seguido de perdas de R$ 749 mil em 2015, R$ 62 mil em 2016 e R$ 1,4 milhão até setembro de 2017. A Spinelli, por sua vez, teve um prejuízo de R$ 6,1 milhões no acumulado de nove meses no ano passado; R$ 2,8 milhões em 2016; R$ 11,2 milhões em 2015; e, R$ 1,6 milhão em 2014.

Com quase 65 anos de atividade, a Spinelli é uma das mais antigas do mercado e entre 2006 e 2008 decidiu profissionalizar a gestão e diversificar as fontes de receitas, com a oferta de títulos de renda fixa, fundos e outros ativos. Isso demandou investimentos da ordem de R$ 40 milhões, o que incluiu a construção da InvestHB. Furlan, por sua vez, estreou no mercado financeiro em 2010 em sociedade com o filho mais novo, Luiz Gotardo Furlan, e o genro Caio Villares ao comprar da própria família o controle da Concórdia, fundada em 1986.

A corretora, junto com o Banco Concórdia, eram controlados por uma holding que, por sua vez, era controlada pela Sadia. Na fusão com a Perdigão, que criou a BRF Brasil Foods, as instituições financeiras ficaram fora da transação. O banco foi vendido para o Rendimento. Publicado em 11/01/2018 por Valor Online Leia mais em gsnoticias 11/01/2018

12 janeiro 2018



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